quarta-feira, 18 de abril de 2012

Crítica de Dib Carneiro Neto

É com muito orgulho que apresentamos aqui a crítica de Dib Carneiro Neto, um amigo de Tatiana Belinky, sobre a peça. Ela foi feita no site da Revista Crescer e pode ser encontrada no link.


Uma pessoa linda, que passa a vida a criar

Tocante espetáculo de Rony Guilherme homenageia os 93 anos de Tatiana Belinky
Dib Carneiro Neto
Um Punhado de Letras para Enfeitar os Cabelos de Tati
A ampla sala de espetáculos da editora Paulinas, na Vila Mariana, está abrigando desde março um lindo espetáculo em homenagem a uma grande escritora, Tatiana Belinky. A poesia começa pelo título escolhido: Um Punhado de Letras para Enfeitar os Cabelos de Tati. Mais do que merecido tributo a uma autora que sempre voltou seu olhar sensível para o mundo das crianças.
O melhor da peça é sua dramaturgia. O veterano ator e diretor de peças infantis, Rony Guilherme, que assina texto e direção, passou semanas conversando descontraidamente com a escritora em sua casa, sem contar a ela que o resultado seria um espetáculo sobre sua vida. A estreia se deu no dia do aniversário de Tatiana, 18 de março, e foi pura emoção. Tatiana teria declarado que nunca antes havia chorado em público, mas naquele dia não resistiu.
Rony acertou em cheio na forma como conta a história, na boa ‘amarração’ dramatúrgica dos principais fatos da vida da autora, inclusive os mais tristes, como a perda precoce de um filho. Esta cena é bem tocante, pois ele a associou a uma bonita lembrança da infância de Tatiana: as pipas no céu de seu bairro, em São Paulo. Tudo, o tempo todo, é muito poético. Funciona muito bem o recurso de fazer a menina Tati (Rebeca Andreza) ficar em cena com a velha Tati, esta última muito bem caracterizada pela atriz Maximiliana Reis. É a avó que todos queriam ter.
Há uma curiosidade divertida. Tatiana Belinky, quando bem garota, era amiga de um menino chamado Paulo Autran (1922-2007) e brincavam juntos de fingir que faziam teatro, sobretudo representando no quintal de casa as aventuras de Peter Pan. Pois Paulinho Autran (Júnior Lima) é um dos personagens deste espetáculo. Uma delicadeza com o nosso maior ator de teatro de todos os tempos.
As canções, a cargo de Marquinhos Mendonça, são ótimas e eficientes. As letras dizem coisas lindas e adicionam detalhes importantes à história contada. Percebi apenas que ainda falta empolgação ao elenco na hora de cantar. Talvez seja porque ficam muito preocupados em acertar as coreografias (de Telma Dias), que, em geral, são pouco criativas, repletas de gestos amplos, braços abertos, ou seja, facilidades que comprometem um pouco a alta qualidade da atração. Os atores chegam a trombar em cena. Mas isso é uma questão de ajuste. O que importa mesmo é a emoção de ver tão bem retratada no palco a vida de uma dramaturga que já encantou gerações com suas histórias para o palco. Como diz a bela letra da canção final, é “a história de uma pessoa tão linda, que passa a vida a criar”.
Tatiana Belinky
A comovida homenageada, que nasceu em São Petersburgo (Rússia) no dia 18 de março de 1919 e chegou com a família ao Brasil dez anos depois, até escreveu um poema para o diretor, após sair do teatro:
Caro Rony não sei o que dizer
Teu presente não dá pra agradecer
Tão generoso
Tão talentoso
Eu não sei mesmo o que fazer.
A minha vida tão resumida
E no entanto, toda vivida
Com aventuras
E desventuras
Horas alegres, outras escuras.
Seu texto de teatro vale por quatro
Eu no teu texto sou o pretexto
Reconhecida
E comovida
As minhas lágrimas não eram “teatro”.
Você entendeu com o seu coração
Tudo com música e ação
Música legal
Letra especial
Marquinhos Mendonça sensacional.
E as Paulinas no seu convento
Realizaram este evento
Sua companhia
É minha alegria
Noventa e três anos sem tomar alento.
Serviço da peça:
Teatro Paulinas. Rua Dona Inácia Uchoa, 62, altura do número 2669 da Rua Vergueiro, próximo ao Metrô Vila Mariana. Tel. (11) 2125-3500. Sábados e domingos, às 16 horas. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Entrada franca para criança até dez anos que doar um agasalho. Em cartaz até o dia 29 de abril.

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